Um filme sobre bonecas que não é para crianças

Fui assistir ao filme da Barbie com uma certa dose de expectativa, o que não costuma ser bom, pois a chance de frustração é grande. E, bem, foi meio o que aconteceu. O filme se propõe a levantar questões sobre feminismo, patriarcado, padrões e estereótipos. E até certo ponto faz isso muito bem. Mas acaba perdendo a mão e, em determinado momento, quando essas discussões tão importantes poderiam ter sido aprofundadas, ocorre o contrário: acabam se diluindo, dando lugar a clichês e piadas superficiais. Não diria que é um filme ruim, em algumas partes meio cansativo sim, mas poderia ser muito mais do que é.

ATENÇÃO AGORA ALERTA DE SPOILER: fui ao cinema achando que veria a Barbie se confrontando e tendo que lidar com problemas e situações vivenciadas por mulheres reais, gerando mudanças realmente profundas naquela que seria o estereótipo dos estereótipos, mas, ao invés disso, ficamos com a descoberta que a Barbie humana tem vagina. Pra quem não assistiu ainda, isso pode parecer um pouco esquisito e quem viu o filme sabe do que estou falando. Acredito que a ideia era finalizar a sessão com uma sacada de humor e não deixa de ser. Mas se tratando de Barbie, padrões e estereótipos, realmente não acho que o órgão sexual feminino seja a mensagem final mais indicada e sim como ela se comporta tendo este órgão sexual feminino num mundo onde domina o patriarcado, como bem ilustrado na obra.

Fazendo uma outra leitura, a Barbie do filme está se descobrindo, como pessoa e mulher. Pensando por este lado, até a questão da sexualidade também está relacionada. Mas isso seria infantilizar a boneca e a mulher que ela representa. Desta Barbie, que se diz criada para empoderar as mulheres do mundo real, se esperava mais. Eu definitivamente esperava mais…

A questão do mundo irreal (Barbielândia) dominado por mulheres e o mundo real dominado por homens também não me agrada. Passa a mensagem que nós, mulheres, precisamos de um mundo imaginário para podermos ocupar posições de poder e destaque. Da mesma forma, a disputa entre ‘domínio dos homens’ X ‘domínio das mulheres’ me parece incentivar dicotomias que estamos justamente tentando combater.

No fim das contas, não se trata do ‘mundo da Barbie’ X ‘mundo do Ken’. Trata-se do mundo real, onde Barbies e Kens e suas versões não idealizadas precisam conviver.  Senti falta disso. O filme que deveria quebrar estereótipos, acaba fortalecendo velhos conceitos. Com uma exceção: no filme da Barbie, todos usam rosa. Inclusive os meninos.

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